Depressão e ansiedade: transtornos que impedem de se viver o presente
O Brasil é o país mais ansioso do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os casos de depressão também são alarmantes, com cerca de 11,5 milhões de brasileiros lidando com o transtorno, e a previsão de que, este ano, a doença se torne uma das mais incapacitantes do mundo. Mesmo com os graves índices, ainda é necessário um grande esforço para conscientizar a população sobre a importância de se buscar, o quanto antes, tratamentos adequados.
Os dados apresentados são anteriores à pandemia do novo coronavírus. A previsão é de que, com toda crise gerada pelo surgimento e disseminação do vírus, essas doenças se tornem cada vez mais recorrentes. Para esclarecer mais sobre essas temáticas, o SEPREV entrevistou a psicóloga Liliane Balan (LB) e a enfermeira da Medicina Preventiva Valéria Santos (VS), que explicaram o que são esses transtornos, como tratá-los e onde buscar auxílio. Confira abaixo:
O que é ansiedade?
LB Muitas pessoas acreditam que se trata de um sentimento ou uma característica, quando, na verdade, é uma reação fisiológica importante para os seres humanos, uma vez que tem o objetivo primário de nos livrar do perigo. Quando estamos sob perigo e precisamos fugir, por exemplo, a ansiedade nos permite gerar fisiologicamente a capacidade de fuga: perceber o que pode acontecer daqui alguns minutos, preparar o coração e os pulmões para correr e focar a mente para aquele momento a fim de responder satisfatoriamente à situação.
O que acontece é que muitas vezes a mente entende como ‘perigo’ diversas situações que não necessariamente são, mas que estão carregadas de emoções negativas, como medo e preocupação e há, então, uma dificuldade em relaxar, esperar. E, assim, quando a situação toma uma frequência e uma intensidade que chega a prejudicar a vida, falamos em transtorno de ansiedade.
E o que é depressão?
LB A depressão é um transtorno de humor que acomete mais pessoas do que podemos imaginar. Depressão não é o excesso de tristeza, e sim uma baixa persistente de energia psíquica e física, assim como diminuição da sensibilidade ao prazer e aumento da sensibilidade à dor, ou seja, alguém com depressão perde o entusiasmo, o prazer, o desejo de realizar, o propósito, e, claro, há diferentes graus de depressão. Assim como na ansiedade, existe um desequilíbrio orgânico. Na depressão, baixam-se os níveis de serotonina, um importante neurotransmissor, responsável pelas sensações de bem-estar e prazer.
Quais as complicações destes transtornos?
LB Viver com transtornos de ansiedade ou depressão já é um complicador. Costumamos dizer que eles atrapalham a vida como um todo. Imagine não conseguir viver o presente por estar preso ao passado ou ao futuro? A depressão remete muito ao passado, por frustrações, medos e incertezas relativas a uma fase da vida que já passou. A ansiedade tem muito a ver com o futuro, porque normalmente é uma tentativa de controle do amanhã.
Viver com estes transtornos acarreta diversos incômodos ao indivíduo e, também, às pessoas que convivem com ele. É difícil ter momentos de tranquilidade e prazer com estes quadros, porque os pensamentos não cessam e não costumam ser agradáveis. Há casos em que pessoas passam a ter dificuldade em manter seus empregos, suas famílias e, em algumas situações, infelizmente, aumenta consideravelmente o risco de suicídio.
Como ficam esses quadros na quarentena?
LB Infelizmente, nós, profissionais de Saúde, temos visto um aumento considerável de casos de transtornos de ansiedade e depressão neste período e o agravamento de casos já pré-existentes. A situação de medo do desconhecido, incerteza, preocupação e isolamento social que a pandemia representa impacta diretamente na saúde mental da população.
LB Quando a pessoa deve buscar ajuda profissional? Sempre! Gosto muito de pensar na prevenção como o melhor momento de buscar ajuda profissional, assim como fazemos com a medicina. Não é adequado esperar a situação se agravar. É necessário entender a saúde mental assim como a física, ao menor sinal de que algo possa estar errado, é interessante buscar ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. Esse sinal normalmente aparece quando a pessoa sente que os pensamentos ou sensações são persistentes e aumentam em frequência e intensidade.
Como prevenir?
LB Há situações do nosso cotidiano que podem colaborar para esta prevenção: atividade física, uma boa leitura, estar com pessoas queridas, mesmo que seja on-line, como o momento pede, nutrir bons relacionamentos, cuidar da alimentação, meditar, cultivar a espiritualidade. E é sempre interessante manter um processo de psicoterapia para trabalhar o autoconhecimento, as realizações e frustrações e dificuldades do dia-a-dia, assim, ao menor sinal de algum transtorno psíquico, o psicólogo já poderá identificar.
Do ponto de vista da neurociência e comportamento como podemos dimensionar o nosso foco para ajudar a prevenir e tratar a ansiedade e depressão? VS Na depressão, a pessoa se foca geralmente no passado, com dificuldade de ressignificar as dores e traumas e colher aprendizados, na ansiedade ela se prende ao futuro, geralmente com uma visão negativa dele, deixando de realizar e viver no presente e com isso comprometendo sua saúde mental e a vida como um todo. Entender como você está se posicionando hoje em sua linha do tempo, observando como dimensiona o seu foco no passado, presente e futuro, compreendendo com inteligência emocional, como se posicionar para eliminar as coisas que te impedem de realizar, pode contribuir muito na prevenção e tratamento da ansiedade e depressão, auxiliando ainda na melhor evolução dos processos psicoterapêuticos.
Qual é a melhor forma de lidar com estas duas doenças?
VS Existem conceitos, abordagens, ferramentas e estratégias para serem aplicados, contudo, cada pessoa é única e não dá para ter uma fórmula para todos, é preciso que cada um encontre o que o fortalece e, junto aos profissionais que o acompanham, definir qual o melhor caminho e estratégia, lembrando que estabelecer uma rotina de autocuidado, adotando um estilo de vida saudável e se dedicar ao tratamento é fundamental na superação tanto do quadro de ansiedade, quanto de depressão.
No SEPREV é possível encontrar esta ajuda?
VS Sim, temos uma rede credenciada com excelentes psiquiatras e psicólogos e além disso, nossa equipe orienta os beneficiários nos cursos e treinamentos de inteligência emocional a dimensionarem o seu foco na linha do tempo da vida, ativarem sua ‘farmácia interna’ por meio da comunicação verbal e não-verbal e dos hábitos para estimular a produção pelo próprio organismo de serotonina, endorfina, dopamina, ocitocina, testosterona, neuro hormônios que estimulam o bem-estar.
Isso pode ajudar muito, mas muitas vezes, além disso, quando o transtorno de ansiedade e ou depressão já estão instalados se faz necessário passar com um médico para associar medicamentos que contribuam para ajustar os neurotransmissores e equilibrar a química cerebral, bem como a introdução da psicoterapia para ajudar no autoconhecimento e ressignificar os fatores desencadeantes dessas psicopatologias.
Não deixe a depressão te roubar a oportunidade de aprender e crescer com seu passado, e muito menos que o transtorno de ansiedade roube as perspectivas e um bom planejamento futuro. Busque ajuda profissional. O lema da Medicina Preventiva Ame-se-, cuide-se, previna-se também trata disso. Se precisar de orientações, encaminhamentos ou mais informações basta entrar em contato com o setor por e-mail no valeria.santos@seprev.sp.gov.br ou pelo canal Medicina Preventiva Responde, no WhatsApp (19) 99887 0816.
Liliane Balan é psicóloga, especializada em terapia cognitiva comportamental e coaching de vida e carreira. Há 10 anos atua na psicoterapia individual e de casal, auxiliando pessoas em busca de equilíbrio emocional, aumento da autoestima e realização pessoal e profissional.
Valéria Santos Com formações em inteligência emocional, neurociência e desenvolvimento humano, é enfermeira e chefe do departamento de Medicina Preventiva e participa ativamente da equipe multidisciplinar, compartilhando ferramentas e conhecimentos para melhorar a saúde física, emocional e social dos beneficiários.
Publicado em: 08/07/2021 08h44 - Atualizado em: 08/07/2021 08h45